História e Legado
O Roof of Africa nasceu de uma ideia ousada em 1967. O engenheiro local Bob Phillips, recém-chegado da construção de uma notória nova estrada, abordou os organizadores de desporto motorizado e desafiou-os a correr na “pior estrada do mundo” que ele acabara de criar. Essa primeira corrida atravessou o “teto” do Lesoto, inspirando o nome. Em 1969, as motos juntaram-se aos competidores (ao lado dos carros), e o evento dividiu-se em categorias separadas. Durante as décadas de 1970 e 1980, tornou-se uma lenda nacional – patrocinado pelo jornal sul-africano The Star – e até realizou etapas de cross-country com acampamentos noturnos na África do Sul (Matatiele/Sani Pass) até 1982. Em 1982, o rali ficou contido inteiramente dentro das fronteiras do Lesoto.
Competidores recebem ajuda dos locais para subir uma secção íngreme das montanhas do Lesoto. O percurso de três etapas do Roof of Africa apresenta subidas implacáveis e obstáculos traiçoeiros.
Nos anos 2000, o âmbito do rali restringiu-se às motos, uma vez que os carros off-road modernos foram desaparecendo devido ao custo e à complexidade. As motos assumiram o protagonismo e o enduro extremo tornou-se uma tendência global. O Roof adotou este espírito off-road radical, ganhando o título de “Mãe do Hard Enduro”. Pilotos lendários como Alfie Cox (um dos primeiros campeões britânicos com várias vitórias) consolidaram o seu estatuto. Os carros regressaram brevemente como uma classe de aventura em meados dos anos 2000, mas o Roof moderno é tudo sobre pura garra de duas rodas.
Ao longo da sua história, o Roof tornou-se um evento a não perder ao nível das grandes corridas de resistência da África do Sul. Os organizadores (a Lesotho Off Road Association, ou LORA) enfatizam que “nenhum participante é deixado para trás”, com acompanhamento em tempo real, grandes ecrãs para atualizações dos espectadores e equipas de resgate de helicóptero em espera. A corrida é propriedade do povo do Lesoto e gerida pela empresa local Live Lesotho, refletindo um profundo orgulho nacional. Ao longo dos anos, injetou cerca de 100 milhões de Maloti na economia local a cada evento, tornando-se um importante impulsionador do turismo e apoiando as comunidades locais. É frequentado por dignitários do Lesoto e visto como uma montra positiva da beleza agreste do país e da cultura Basotho.
Formato da Corrida e Categorias
O Roof of Africa de hoje é uma maratona de enduro de três dias. Todas as manhãs, os pilotos partem da área de Matsieng (perto de Maseru) para as montanhas e regressam ao anoitecer. A distância total ao longo de três dias é tipicamente de 250–350 km, dependendo do percurso. Existem várias classes baseadas na idade e no tamanho da moto:
- Classe Ouro: Aberta a pilotos maiores de 18 anos em motos de qualquer cilindrada (a categoria principal).
- Classe Prata: Aberta a maiores de 18 anos (qualquer moto) e maiores de 16 anos em máquinas restritas (125–250cc).
- Classes Bronze/Iron: Categorias juvenis e apenas por convite para pilotos adolescentes, com restrições de motos menores.
- Classe Feminina: As melhores pilotos femininas competem por honras, muitas vezes nas categorias Bronze/Iron.
Qualquer pessoa com 16 anos ou mais pode participar (crianças de 14–15 anos devem cumprir critérios adicionais). No geral, o evento atrai tanto os melhores profissionais como os entusiasmados pilotos locais. Os participantes devem estar preparados: rastreadores GPS são obrigatórios para monitorização de segurança em tempo real, e cada piloto precisa de uma equipa de apoio pessoal para reabastecimento e reparações.
Cada dia inclui uma etapa de contra-relógio “Round the Houses” (através de uma aldeia local) e etapas de montanha. No total, o percurso da classe Ouro pode atingir mais de 400 km no dia final, com Prata e Bronze ligeiramente mais curtos. Apesar das distâncias, os testes mais difíceis são os trilhos naturalmente acidentados e cheios de rochas e as subidas assassinas. (Em 2024, o percurso foi um desafio de 350 km, incluindo novas secções “virgens” nunca antes corridas.) Os pilotos frequentemente enfrentam calor abrasador num dia e condições ventosas, até mesmo com neve, no dia seguinte.
Factos chave a saber:
- Classes e Elegibilidade: As categorias (Ouro/Prata/Bronze/Ferro) destinam-se a diferentes idades e níveis de habilidade. Pilotos com mais de 14 anos podem participar em Bronze/Iron (com restrições); mais de 16 anos podem participar em Prata/Ouro; mais de 18 anos em qualquer classe.
- Equipamento e Equipa: Rastreadores GPS são obrigatórios para a segurança. Cada piloto deve ter pelo menos um membro da equipa de apoio para transportar combustível extra e equipamento.
- Apoio à Corrida: Os organizadores usam rastreamento por satélite em tempo real para todos os pilotos, e as etapas são corridas com helicópteros de resgate médico em espera. Ecrãs de informação e rádios de equipa mantêm todos informados.
Terreno e Condições Extremas
O que realmente torna o Roof lendário é o terreno. O Lesoto é frequentemente chamado de “o Reino no Céu” porque mesmo as suas elevações mais baixas são altas. O percurso da corrida estende-se de cerca de 1.400 metros nas terras baixas até mais de 3.000 metros nos passos mais altos. Os pilotos lutam para respirar enquanto sobem trilhos estreitos e rochosos. Os trilhos abertos nas encostas das montanhas são localmente conhecidos como “trilhos de burro” – sulcos íngremes e retorcidos através de gravilha e rocha sólida. Por vezes, o percurso serpenteia por leitos de rios e sobre afloramentos rochosos semelhantes a falésias. Sob um sol alpino ténue, os pilotos usam camadas contra o ar frio, mas ao meio-dia a temperatura pode disparar. Em 2017, por exemplo, os pilotos viram um dia escaldante seguido por uma queda de neve pesada invulgar nas montanhas. Tais oscilações tornam o planeamento e a resistência uma parte enorme do sucesso.
A Subida da Montanha: Um piloto de enduro esforça-se para subir uma ravina rochosa íngreme nas Montanhas Maloti. O percurso de três etapas do Roof of Africa apresenta subidas implacáveis e obstáculos traiçoeiros.
O ganho de elevação total ao longo de três dias pode exceder 10.000 metros, e muitas etapas são de trilho único e extremamente estreitas. Os pilotos descrevem secções tão íngremes e soltas que parece “surfar em subida”. Isto não é uma arena de motocross amiga do espectador – é verdadeira natureza selvagem. Perder-se é fácil, por isso os organizadores equipam cada piloto com GPS por satélite e monitorizam-nos em tempo real. Se está curioso sobre o desafio: imagine 3 dias de subidas contínuas e quase verticais, enquanto navega por encostas rochosas e atravessa riachos gelados bem acima do nível do mar!
Campeões e Recordes
Ao longo de mais de 50 edições, surgiu um panteão de campeões. A corrida é famosa pelos seus vencedores repetidos. O piloto sul-africano Wade Young tem dominado nos últimos anos: a sua vitória em 2024 foi a sua nona vitória no Roof of Africa, igualando o recorde de todos os tempos da lenda britânica Alfie Cox. Notavelmente, Young venceu pela primeira vez em 2012 com apenas 16 anos – o campeão mais jovem de sempre. De facto, uma tradição de campeões juvenis continua: muitos dos melhores pilotos (incluindo Young e Travis Teasdale) começaram no Lesoto ainda adolescentes.
O piloto britânico de enduro extremo Graham Jarvis é outro ícone. Quatro vezes campeão, Jarvis tem consistentemente lutado contra estrelas mais jovens nas colinas do Lesoto. Outros grandes vencedores incluem Ryan Young (irmão de Wade), montado em Sherco, e a lenda de rali multi-campeão Toby Price, que conquistou o título em 2016. Em 2017, Wade Young liderou um pódio sul-africano 1-2-3 com Travis Teasdale e Jarvis, destacando como a corrida combina talento local e global.
As pilotos femininas também fizeram história. Em 2017, a piloto espanhola Sandra Gómez tornou-se a mulher com a melhor classificação de sempre (terminando em 30º lugar geral). Todos os anos, um pequeno grupo de mulheres compete, muitas vezes no mesmo percurso extenuante que os homens.
Factos Notáveis e Impacto Local
- “Mãe do Hard Enduro”: O apelido do Roof reflete o seu estatuto e dificuldade. Quando Wade Young venceu a 50ª edição em 2017, os meios de comunicação apelidaram-no de “Mãe do Hard Enduro”. É visto como um rito de passagem para os pilotos de enduro extremo.
- Tradição Anual: Realizada todos os anos em novembro ou dezembro, a corrida faz parte do calendário desportivo motorizado do Lesoto. (Em 2025, tornou-se a final do Campeonato Mundial FIM de Hard Enduro, sublinhando o seu prestígio global.)
- Participação Massiva: Quase 400 competidores participam todos os anos, vindos da África do Sul, Europa, Ásia e mais além. Os melhores pilotos do mundo e as estrelas regionais enfrentam o Roof.
- Orgulho e Economia Locais: O Lesoto trata o evento como um destaque nacional. Injeta cerca de 100 milhões de Maloti na economia todos os anos. Pequenas aldeias acolhem as etapas de partida/chegada (como a tradicional corrida de rua “Round the Houses”) e os negócios locais prosperam durante a semana da corrida. As autoridades afirmam que o Roof mostra as paisagens do Lesoto e a cultura Basotho ao mundo.
- Segurança e Apoio: Apesar do desafio extremo, os organizadores enfatizam a camaradagem e a segurança. Todos os pilotos são rastreados; helicópteros de resgate patrulham o percurso. O lema é que “nenhum piloto é deixado para trás.” Este espírito é frequentemente notado pelos competidores: mesmo em 2024, o campeão Wade Young elogiou a camaradagem e o apoio da multidão local que o manteve a seguir.
Glória na Linha de Chegada: Um arco de chegada triunfante no Lesoto (notar os banners dos patrocinadores de combustível). Os veteranos do rali frequentemente celebram sob esta tenda após 3 dias. A multidão local do Roof of Africa e os oficiais alinham-se na pista para aplaudir os heróis, criando uma atmosfera especial.
Preparar-se para o Roof
Para pilotos e fãs, “tudo o que precisa de saber” inclui preparar-se para o isolamento e a dificuldade. Se planeia assistir ou competir, Maseru (capital do Lesoto) serve como centro logístico. Alojamentos no distrito de Maseru são recomendados, pois a base da corrida (Matsieng) fica a cerca de 45 minutos de distância. A participação está aberta a pilotos internacionais sem requisito de qualificação (ao contrário de alguns eventos europeus), mas espere ter de demonstrar a sua experiência para certas classes. Deve estar em forma e ser tecnicamente capaz: as motos recomendadas são tipicamente enduros de 250–300cc, que equilibram potência e agilidade nas rochas do Lesoto.
Os espectadores são atraídos pela autenticidade. Os fãs alinham-se nas ruas das aldeias, e as crianças frequentemente aplaudem os pilotos em vales isolados. Guias locais e serviços de jipe oferecem transporte para pontos de observação remotos. Lembre-se que as instalações são básicas nas colinas, por isso prepare-se para a autossuficiência. Note também o clima: mesmo no pico do verão, as noites nas montanhas podem ser frias; traga camadas de roupa e proteção solar. Finalmente, seja respeitoso com a cultura local – o povo Basotho é acolhedor, mas o terreno é terra sagrada.
Por Que É Especial
O enduro Roof of Africa perdura porque oferece aventura e história inigualáveis. Ao contrário do motocross ou rallycross encenado, esta corrida parece uma expedição. Está literalmente a subir o "teto" da África, testando mente e corpo. O seu legado – desde os pioneiros de 1967 até aos campeões Xtreme modernos – faz com que cada momento na linha de partida pareça importante. Como um piloto veterano resumiu: “Vencer aqui é como estar no Monte Evereste do enduro, com o país inteiro a assistir.”.
Seja um entusiasta de enduro a sonhar com um desafio, ou um viajante curioso à procura de uma experiência inesquecível, o Roof of Africa representa o teste derradeiro de resistência off-road. Combina desporto robusto, paisagens de tirar o fôlego e um espírito comunitário que poucas corridas conseguem igualar. Todos os anos, acrescenta mais um capítulo à sua lenda – desde a sua humilde origem numa “pior estrada do mundo” até à consagração de heróis off-road modernos.
Fontes: Materiais oficiais do Roof of Africa e cobertura mediática. Todas as informações são factuais e verificadas com os relatórios mais recentes de 2024–2025.